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De 68 feminicídios no DF, 11 assassinos tiraram a própria vida

Caso mais recente foi registrado domingo (31/3) e vitimou Isabelle de Oliveira, morta com tiro no olho. Ex-companheiro se matou após o crime

Fonte: www.metropoles.com - Em Polícia - 02/04/2019 06:43:00 hrs

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De 68 feminicídios no DF, 11 assassinos tiraram a própria vida

Crime bárbaro e trágico, o feminicídio foi seguido de suicídio em 16% dos 68 casos registrados entre março de 2015 e 18 de março de 2019, conforme análise da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. No total, 11 homens se mataram após assassinarem mulheres.

As tristes histórias se repetem com infeliz frequência. A última noticiada na capital da República vitimou Isabelle Borges de Oliveira, 25 anos. Nesse domingo (31/3), o ex-companheiro dela, Matheus Cardoso Galheno, 22, a matou com um tiro no olho dentro de casa no Paranoá. Em seguida, eles tirou a própria vida. Embora essa ocorrência esteja fora da estatística, concluída antes do crime, vai engrossar futuros levantamentos dos órgãos de segurança.

Para a psicóloga e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) nas áreas de ciúmes, gênero e violência Maísa Campos Guimarães, 16% é um percentual alarmante. “O que fica evidente é o sentimento de posse”, destacou.

Segundo a especialista, o suicídio, nesses casos, pode ser avaliado como tentativa de fugir da punição, mas não é só isso. “Existe a ideia de que a vida não faz mais sentido se não tiver a propriedade ou controle sobre a outra pessoa”, completou.

Maísa alerta que não é possível prever se e quando uma ocorrência em potencial será concretizada. “É preciso levar as ameaças a sério”, reforçou. A fim de evitar tragédias, também é uma observação para os profissionais da área de saúde fazerem escuta detalhada dos homens que manifestam a idealização de suicídio – uma vez que essa predisposição pode acarretar episódios de violência contra terceiros antes da execução do ato.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o assunto não venha a público com frequência, para que o ato não seja estimulado. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem e, em alguns casos, ceifar outras vidas antes disso.

Porta-voz do Centro de Valorização da Vida (CVV), Leila Herédia conta que a instituição oferece apoio gratuitamente e sob sigilo. “O sofrimento psíquico, como tristeza e angústia, indica quando é hora de procurar ajuda”, explicou. “A fala pode ser terapêutica.”

A pesquisadora em estudos de gênero e professora da Universidade de Brasília (UnB) Valeska Zanello sugere que a intervenção deve ocorrer o mais cedo possível. “A gente tem de pensar cada vez mais não só no sentido de parar relações violentas mas de prevenir. Precisamos de políticas públicas de intervenção nas masculinidades.”

Assim como Maísa, Valeska avalia que o suicídio após o feminicídio aponta vínculo marcado pela propriedade. “O homem não suporta que a mulher termine ou não queira mais a relação. Ele acaba matando a companheira – às vezes, os filhos – e, em seguida, tira a própria vida. É muito mais raro que a mulher cometa o mesmo tipo de violência”, concluiu. Como saldo da tragédia, ficam famílias devastadas.



SSP/REPRODUÇÃO
 

Histórias
Nas estatísticas da SSP, todos os casos são de brutalidade extremada. Com requintes de crueldade, Leandro Brabosa de Jesus, 61, matou a pauladas a mulher, Maria das Graças de Sousa, 46, em outubro de 2018. À época, o delegado de plantão da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), Sérgio Bautzer, detalhou que a vítima queria se separar, mas o homem não concordou. “Ela disse que deixaria a casa, porém ele não aceitava e acabou matando a esposa com pauladas na cabeça e no rosto”, relatou o investigador.

O homem avisou a parentes que havia matado a companheira, mas ninguém acionou a polícia. Ele chegou a ir até a casa de duas de suas noras, antes de voltar ao local do crime e se matar com uma faca. Os dois corpos só foram encontrados após um sobrinho de Maria das Graças ir à residência da tia e visualizar manchas de sangue no chão.
No dia em que a Lei Maria da Penha completou 12 anos de sanção, em agosto do ano passado, um PM matou a mulher e tirou a própria vida no Riacho Fundo II. De acordo com informações da Polícia Militar, Epaminondas Silva Santos, 51, lotado no 8º Batalhão (Ceilândia), assassinou a companheira, Adriana Castro Rosa Santos, 40.

O homem não admitia ceder o divórcio proposto pela esposa. Após matar a mulher, Epaminondas se suicidou com um tiro na têmpora. Ao ouvirem os tiros e os gritos de desespero da avó, os filhos do casal – de 11 e 8 anos – correram descalços e ainda de pijama até o quintal e se depararam com os corpos dos pais sangrando.

Em março de 2018, o piloto do Metrô-DF Júlio César dos Santos, 38, pegou um revólver calibre .38 e tirou a vida da esposa, Mary Stella Maris Gomes Rodrigues dos Santos, 32, e depois se matou. Tudo na frente de um dos filhos, de apenas 2 anos.

Segundo uma testemunha-chave ouvida pelo Metrópoles, o menino estava no colo do pai, que tentava forçar a porta durante a briga com a mulher. Logo em seguida, a vítima saiu gritando “socorro, socorro” e correu para o portão. Antes que os vizinhos chamassem a polícia, Júlio César fez os disparos.

Outros dados
Nos casos em que os criminosos não se mataram, a partir das informações coletadas pela Secretaria de Segurança Pública, é possível dizer que os autores eram ou foram casados com a vítima (82,3% dos casos) e citaram ciúmes, não aceitação do término da relação ou vingança por traição como razões para a prática do ato bárbaro (na soma, 82,3% das ocorrências).

O levantamento revela, ainda, que o assassinato de mulheres, na maioria das vezes, acontece dentro de casa (91,2%), aos finais de semana – crimes ocorridos entre sábado, domingo e madrugada de segunda somam 47,1% dos casos – e entre 18h e 6h (63,3%).

 

HUGO BARRETO/METRÓPOLES
Outra informação importante encontrada durante a análise foi que em 72,1% dos casos não havia registros na Polícia Civil de violência doméstica praticada pelo agressor contra a vítima. “Isso reforça a necessidade de elas denunciarem, para que o poder público possa entrar com as medidas protetivas cabíveis”, defende o secretário-executivo da SSP, Alessandro Moretti.

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